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Porque não começamos do início? Está bem. Porque estudaste psicologia? Geralmente, quem faz as perguntas sou eu. As minhas perguntas incomodam-te? Não. Simplesmente não trabalho assim. Como é que trabalhas? Tento criar empatia com o doente, fazendo uma série de perguntas básicas. Tais como? Tens passatempos? Passatempos? Não ouvia essa palavra desde a escola primária. O que queres que te diga? Perseguir formigas, meter o dedo no nariz, brincar aos médicos. O que gostavas de fazer na vida? Não sei. Estou dividida entre astronauta e malabarista. Qual é a tua disciplina preferida? De certeza que aqueles diplomas são todos teus? Pareces uma principiante. Com que frequência te masturbas? Posso? Achas que isto é um jogo? As nossas vidas são um jogo. Não passamos de peões manipulados. Quem achas que te manipula? Todos somos manipulados pelas nossas mentes. Não sou só eu. Achas que a tua mente te manipula como uma entidade externa? Qual é a graça? Acho o máximo que os psicólogos acreditem em qualquer treta só para catalogarem os outros. Façamos um acordo. Tu respondes a uma última pergunta… Para ti, como se eu não estivesse aqui. Eu acendo-te o cigarro e terminamos por hoje. Está bem. É justo. Mas pensa bem na pergunta. Com que sonhaste esta noite? É uma boa pergunta. Todas as noites tenho o mesmo sonho. Devo ter uns oito ou nove anos. Corro pela floresta. Há um caçador. Não o vejo, mas sei que está lá. Ouço um tiro. Ouço o gemido de um animal e vou ver o que é. É um gemido forte. Vejo que é um veado. Está a sofrer. Tento afastar o olhar, mas não consigo. Tenho de o ver. Agrada-me. As flores ficam manchadas com o sangue que jorra do seu pescoço. O caçador aproxima-se. Não reconheço o seu rosto. É como uma versão de alguém que já conheci. Tento proteger o veado. Mas ele afasta-me. Põe-lhe uma corrente à volta do pescoço. É nesse momento que acordo. Mas não acordo assustada. Nem triste. Acordo excitada. Com vontade de me masturbar. A doente é Verónica de la Serna, de anos. Estava a ser tratada pelo Dr. Alesander Van Rocie. Ainda não foi possível consultar a história clínica. A doente mostra uma certa resistência à terapia. Em geral, as suas reações são evasivas. No entanto, são reações rápidas, inteligentes. A doente tem sonhos recorrentes que podem ou não ter origem num ou mais acontecimentos traumáticos na infância. Esta relação com a morte remete para uma disfunção de excitação ual… O que é o jantar? Não podes entrar no meu gabinete sem bater à porta. Deves pedir-me autorização para entrar nos espaços que não são comuns. Eu também não entro no teu quarto sem licença. Não pareceste incomodada quando te apontei a lanterna. Tem de ser uma fonte de luz mais forte. Não gostas de cogumelos? Sabias que, há muitos anos, havia médicos asiáticos que acreditavam que estes cogumelos eram uma importante fonte de energia? Podiam mesmo retardar o envelhecimento. Hoje quero iniciar a sessão de forma diferente. Vais mostrar-me cartões com borboletas negras? Algo do género. Vou ler uma lista de palavras e quero que digas a primeira coisa que te vier à cabeça.
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